ARTES.SEXUALIDADES.PRÁTICAS PARA O ÊXTASE.

A oficina de Drag King do Rubão, o paizão, foi um marco na minha vida. Em Maringá – PR, sentindo a falta de referências Drag, fiz de mim mesma a minha referência – Drag Queen. Conhecer Drag King, e mais que isso, o processo de afiliação, foi algo que nunca tive e sempre desejei. Ter um pai no processo fez toda a diferença, por me sentir cuidada, ensinada e, acima de tudo, potencializada. Destrinchar as masculinidades no processo de Rubão, além da repercussão artística que solidificou Andromeda X, meu King, teve o papel de mediar meus afetos com uma suposta masculinidade que nunca tinha cumprido. No lugar de travesti, passei muito tempo acreditando que precisaria estar em guerra com minha infância e adolescência, uma luta contra a socialização masculina que me fora imposta. Rubão me proporcionou a possiblidade de fazer as pazes com a minha história: a masculinidade que eu tentava emular – e falhava miseravelmente – não é algo a se jogar fora ou esconder: é uma ficção, é um deboche do molde hegemônico de ser homem no mundo. Nunca fui, mesmo antes de me saber travesti, já me sabiam os outros: a bixa. A bixa, que não cumpre a masculinidade esperada, mas não pertence ao mundo das mulheres, aquela que não tem lugar. Assim sendo, Andromeda X é um King bixa, que revive a minha adolescência de não lugar, de não homem, de não mulher, sequer de pessoa; Ele reside no limiar do garoto que nunca fui e dos garotos que nunca tive, aquilo que eu repudiava em mim e admirava nos outros. Agora, pelo viés Drag King, com subsídio das metologias de Rubão, consigo materializar essa figura, sem amarras sociais, sem cobranças de padrão, sem comprometimento com a norma, e Kingar de maneiras impensáveis antes. Não ser homem me deu a plataforma de ser qualquer homem, graças às oficinas do paizão. O único lado ruim é que, sendo eu mesma meu objeto de desejo, jamais conseguirei me beijar. Resolve isso aí, Rubão!